sábado, 8 de novembro de 2014

Pesquisa mostra que a gordura presente no leite pode fazer bem

Data da publicação: 30/10/2014

Evidências científicas têm demonstrado que o consumo de produtos lácteos ricos em gordura - full fat - não aumenta os riscos de doenças cardiovasculares e de obesidade, pelo contrário, pode até reduzi-los.
Até então, devido ao elevado teor de ácidos graxos saturados presentes em sua gordura, os produtos lácteos full fat, como leite integral, queijos e manteiga, estiveram associados à elevação do risco de doenças cardiovasculares.
As pesquisas apontam que esse possível efeito cardioprotetor exercido pela gordura do leite parece estar vinculado, pelo menos em parte, à presença de compostos com efeitos benéficos para o sistema cardiovascular, com destaque para o ácido linoleico conjugado (CLA), o ácido vacênico, o ácido alfalinolênico (ômega-3) e o ácido oleico, esse último componente majoritário do azeite de oliva, um dos ingredientes da aclamada Dieta do Mediterrâneo.
A gordura do leite é a principal fonte de CLA e de ácido vacênico na dieta humana, além de contribuir significativamente para a ingestão de ácido oleico.
Os CLA são ácidos graxos que compõe a parte da gordura da carne ou do leite. Estudos sugerem que o CLA apresenta potentes atividades bioquímicas e fisiológicas, que podem beneficiar o organismo e proteger contra enfermidades crônicas como doenças cardiovasculares e obesidade, diabetes, e ainda, alguns tipos de câncer: mama, cólon, próstata e cérebro.
A Embrapa Gado de Leite vem desde 2005 trabalhando no tema em parceria com universidades e outros centros de pesquisa da Embrapa. Pesquisadores estudam a produção de leite e derivados lácteos full fat naturalmente ricos em componentes potencialmente benéficos à saúde humana, o desenvolvimento de técnicas analíticas para determinação e monitoramento de atributos nutricionais especiais, e ainda, a avaliação das propriedades funcionais desses produtos lácteos naturalmente modificados, em modelos animais e em estudos clínicos (com humanos).
O pesquisador da Embrapa Marco Antônio Sundfeld Gama explica que, por meio da manipulação da dieta dos animais, por exemplo, tem sido possível obter produtos lácteos contendo, naturalmente, elevados teores de compostos com propriedades benéficas à saúde, como o CLA.
Esses produtos, como a manteiga, são incorporados à dieta de animais ou fornecidos para humanos para avaliar os seus efeitos sobre marcadores de doenças crônicas de interesse, obesidade, diabetes do tipo-II, doenças neurodegenerativas, entre outras, e são comparados a uma gordura láctea convencional. "Até o momento, os resultados obtidos são bastante promissores, tanto nos estudos com animais quanto nos clínicos", aponta o pesquisador.
Na pesquisa com humanos, realizada em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a ingestão de 20 gramas diários de manteiga naturalmente rica em CLA, produzida na Embrapa Gado de Leite, reduziu a produção de biomarcadores pró-inflamatórios associados com a obesidade.
Em outro estudo, conduzido com ratos em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foram observadas alterações positivas em biomarcadores associados à doença de Alzheimer.
Do ponto de vista prático, Gama ressalta que há cooperativas na Espanha, no Canadá e na Itália produzindo e comercializando leite e produtos lácteos full fat com maiores teores de CLA e de ácidos graxos ômega-3.
Além disso, há um produtor de leite na Argentina, da região de Chivilcoy, que vem produzindo queijos ricos em CLA e com baixo teor de ácidos graxos saturados desde 2011. "Acreditamos que há um potencial nicho de mercado para esses produtos no Brasil também. São os chamados alimentos funcionais, um mercado em ampla expansão em todo o mundo", afirmou.

Gorduras vegetais enriquecem dieta animal

A Embrapa Clima Temperado também vem se dedicando ao aumento da concentração de substâncias funcionais no leite, por intermédio da manipulação da dieta das vacas.
O trabalho envolve grupos de animais, da raça Jersey, com alto mérito genético para a produção de leite.
O ponto chave da alimentação desses animais é oferecer gordura vegetal: óleo de soja, linhaça, girassol, canola e algodão, de maneira a enriquecer a sua dieta.
Os animais são alimentados com dietas normais como pasto, feno, silagem e ração, acrescidas de óleo vegetal, introduzidos em níveis crescentes de oferta.
Esses experimentos duram cerca de 60 dias, sendo colhidas amostras de leite, sangue, fezes e dos alimentos. As análises foram encaminhadas ao Núcleo Integrado de Desenvolvimento de Análises Laboratoriais (Nidal), ligado ao Departamento de Ciências dos Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que é parceira das ações. A proposta é chegar ao aumento de quase cinco vezes mais CLA.
O pesquisador Jorge Schafhauser Júnior é coorientador de um estudo que envolve toda a parte tecnológica de processamento do leite enriquecido e avaliações dos produtos gerados, como queijos e manteiga.
Esses produtos passam por avaliação sensorial e do tempo de vida de prateleira, além de serem testados com modelos animais.
Em experimentos com camundongos, alimentados com margarina, manteiga comum e manteiga enriquecida com CLA, são avaliados, depois de 90 dias, a saúde do sistema cardiovascular e a ocorrência de tumores nos animais.
O trabalho é feito em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Novos projetos estão sendo elaborados em conjunto com a Embrapa Rondônia e a Embrapa Gado de Leite.

Fonte: Jornal Tribuna

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Adoçantes artificiais alteram a flora intestinal favorecendo a obesidade e a diabetes

Você sabia que a sacarina, o aspartame e a sucralose, frequentemente usados nas dietas de emagrecimento e pelos diabéticos, mais prejudicam do que ajudam?
Segundo as pesquisas modificam a flora intestinal facilitando o aumento de peso, o qual dificulta o controle do nível de açúcar no sangue e, portanto, aumenta o risco de diabetes tipo 2, segundo um comunicado do Instituto Weizmann de Rehovot (Israel) publicado na revista Nature.
Os adoçantes artificiais, ao contrário do açúcar, passam pelo aparelho digestivo sem serem digeridos. Por essa razão não adicionam calorias ao nosso organismo, mas, exatamente por essa mesma razão, chegam intactos até nossa flora intestinal - as bactérias que povoam nosso intestino grosso.
Tendo em conta que os alimentos que ingerimos regulam a flora intestinal e que essa flora regula a saúde, os presquisadores se perguntaram se os adoçantes artificiais poderiam ter algum efeito relevante.
Testes em cobaias
Para averiguar, realizaram uma série de testes em cobaias e “nos surpreendeu que o efeito fora tão grande”, declara Eran Segal, também codiretor da pesquisa do Instituto Weizmann. Posteriormente, realizaram dois estudos em pessoas que confirmaram os resultados.
Os testes em cobaias demostraram que quando um animal ingere sacarina, aspartame ou sucralose, o nível de açúcar no sangue sobe mais que quando ingere açúcar.
Demonstraram também que os adoçantes modificam a composição da flora intestinal. Concretamente, reduzem as bactérias do gênero Bacteroidetes - que são um antídoto contra a obesidade - e aumentam as do gênero Firmicutes.
Para certificar que a flora intestinal é a chave do efeito dos adoçantes sobre o nível de açúcar no sangue, foi realizado um transplante de bactérias intestinais de cobaias alimentadas com sacarina a outras cobaias que nunca haviam tomado sacarina. Os resultados vêm esclarendo as dúvidas: após o transplante o nível de açúcar no sangue disparou.
Testes com seres humanos: estudos e observações preliminares
Em humanos, os resultados estão sendo igualmente significativos. Num primeiro estudo foi avaliado o consumo de adoçantes artificiais numa amostra de 381 pessoas que responderam a uma pesquisa nutricional.
As respostas vêm revelando que, quanto mais frequente for o consumo de sacarina, maior parece ser o peso de uma pessoa e mais alto passa a ser o nível de açúcar no sangue. Além disso, o ganho de peso concentra-se na região abdominal, local mais prejudicial à saúde.
Ao realizar exames de sangue nos consumidores habituais de sacarina, foram observados níveis anormais e elevados de hemoglobina glicosilada (o que indica a concentração de açúcar no sangue nos três meses anteriores) e da enzima ALT (que aponta os danos hepáticos que os pesquisadores atribuem a um transtorno de fígado grasso).
Num segundo estudo, sete pessoas sãs que não eram consumidoras habituais de adoçantes artificiais passaram a tomar 360 mls diários de sacarina durante uma semana, uma dose considerada aceitável pela agência de Alimentos e Fármacos dos EUA.
Até o final da semana, quatro dos sete participantes no estudio teriam alterada sua capacidade de regular o nível de açúcar no sangue. A composição da sua flora intestinal também foi alterada ao longo da semana. Nos outros três participantes, a sacarina não teve nenhum efeito prejudicial ou benéfico.
Uma análise retrospectiva vem revelando que desde antes de iniciar o teste, as quatro pessoas prejudicadas pela sacarina teriam uma composição da flora intestinal distinta das outras três pessoas.
A pesquisas dão base para observar com mais detalhe os efeitos dos adoçantes artificiais sobre a saúde, em especial os 3 tipos analisados nesses estudos: a sacarina, o aspartame e a sucralose. É um alerta geral, mas os presquisadores advertem: dado os resultados anteriores que nem todas as pessoas reagem igual ao consumo, tampouco isso quer dizer que o açúcar seja menos ou mais prejudicial e substâncias como a stevia ainda não foram analisadas. Portanto, tudo está em desenvolvimento.

Fonte - Autor: Javier Monzón - 24/09/2014